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Vítimas de inundações em 2010;famílias da Mata Sul revivem drama e cobram solução


Quando, na madrugada de 28 de maio, a água da chuva cobriu a casa em que viviam Tiago Almeida e a mulher grávida de três meses, no bairro de Santa Gorete, em Barreiros na Mata Sul, o casal só teve tempo de deixar o filho de um ano com conhecidos e retirar poucos objetos – roupas, televisão e documentos. Buscaram proteção na rodoviária. “Fazia frio e, no dia seguinte, meu filho adoeceu. Teve muita tosse. Encaminharam a gente para um colégio, mas o povo ficou falando de botar a gente pra fora, que iam começar as aulas”, conta.

Junto com outras 48 famílias, eles terminaram se instalando no abrigo improvisado na quadra esportiva de uma escola agrotécnica. “Quando a gente veio para o lado de cá, o menino começou a ficar com dor de barriga… Ele emagreceu, não come direito, nem mamando está mais. Chega está triste. Queremos sair daqui o mais rápido possível”, expressou, quando já completava 25 dias fora de casa.

Para lá também foi encaminhada a família de Cícera Caetana da Silva, mãe de nove filhos, que também reclama das condições de assistência. “A gente passa a noite acordada, abanando os meninos com panos. É muriçoca, lacraia, besouro no ouvido deles. Não aguentamos mais comer só salsicha e biscoito. Café da manhã não vem mais. Estamos ficando fracos. Teve criança que foi para o hospital”, diz ela, que mal se recuperou da enchente anterior, em 2010, quando perdeu tudo.

Os relatos não são isolados. Com os alagamentos e o transbordamento do Rio Una, 17,2 mil pessoas, ou dois de cada cinco moradores de Barreiros, ficaram desalojados (abrigados temporariamente em casas de parentes e amigos) no início de junho. Quando a reportagem esteve no local para acompanhar a entrega de donativos pela Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe), havia 169 pessoas no abrigo da cidade que foi, proporcionalmente, a que teve mais pessoas afetadas no Estado: 43% da população.

Por conta das inundações, o Governo Estadual decretou situação de emergência em 27 municípios. Em todo o Estado, logo após as chuvas, os números alcançaram 52 mil desalojados e três mil desabrigados. Até 1º de julho, permaneciam desalojadas oito mil pessoas e desabrigadas mais de mil.
Após o cadastro das famílias, haverá a discussão com outros entes governamentais sobre as próximas etapas, que podem ser a realocação em novas casas ou a concessão de auxílio-moradia. De acordo com o Ministério das Cidades, uma das possibilidades é o remanejamento delas para empreendimentos já contratados do programa Minha Casa, Minha Vida que ainda estejam sem beneficiários selecionados.

Para Claudeniz Francisca Santiago, esse processo precisa ser resolvido o quanto antes. Mãe de três filhos, ela já contabiliza perdas em quatro enchentes desde o ano 2000. “Na de 2010 eu perdi tudo. Faz quatro cheias que fico voltando para o mesmo lugar. Nessa, saí com água no meio da canela e levando choque, por causa da energia. Socorreram uma filha e meu neto de sete meses para o hospital. Eu queria ganhar logo a minha casa”, apela.

A Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), que coordena o Gabinete de Crise Central, informa que o Governo do Estado investiu cerca de R$ 10 milhões em ações de ajuda humanitária e restabelecimento dos municípios. Já o Governo Federal liberou R$ 17,6 milhões com a mesma finalidade. Um investimento adicional de cerca de R$ 25 milhões para obras de contenção de barreiras foi solicitado à União.

Quanto à assistência sanitária, o secretário estadual de Saúde, Iran Costa, destacou medidas adotadas pela gestão como abertura de um hospital de campanha em Rio Formoso, visitas aos abrigos e distribuição de hipoclorito de sódio. “Na enchente de 2010, todos municípios tiveram surto de diarreia, agora só um, Quipapá, teve, mas não caracterizou epidemia. Foi feito bloqueio epidemiológico para diarreia e esquistossomose e temos pouquíssimos casos notificados de leptospirose. Foi uma atuação ampla e intensa”, afirma.  

Obras – Outro ponto de controvérsia, que repercutiu na Alepe, diz respeito à construção de barragens consideradas necessárias para evitar inundações na Mata Sul. A conclusão de Serro Azul, em Palmares, foi apontada pela base aliada como um dos fatores que reduziu a área de inundação e o nível de água em relação à enchente de 2010. A Oposição, porém, responsabiliza o Governo do Estado pela paralisação das obras das barragens de Gatos e Panelas II, em 2014, e de Igarapeba e Barra de Guabiraba, em 2015.

“A maioria das ações anunciadas em 2010, na Operação Reconstrução, não foi entregue à população. Das cinco barragens prometidas, apenas uma foi concluída. Os conjuntos habitacionais, a requalificação de morros, hospitais e escolas não saíram do papel. Houve claramente uma desatenção do Governo do Estado”, afirma o líder oposicionista, deputado Sílvio Costa Filho (PRB).

Em nota, a Seplag afirma que, de 2011 até agora, Pernambuco investiu cerca de R$ 400 milhões e a União aproximadamente R$ 350 milhões em ações de controle de cheia, quando, normalmente, essa relação de investimento é de 90% para a União e 10% para o Estado. “Por ser a barragem com maior capacidade de acumulação, foi priorizada a conclusão de Serro Azul, que suportou aproximadamente 70 milhões de metros cúbicos de água, ou cerca de 40% do volume que chegou às cidades atingidas. A barragem contou com R$ 200 milhões de repasse federal e R$ 241,25 milhões do Governo do Estado. Em relação às demais barragens previstas, havia uma previsão de R$ 15 milhões em aportes estaduais, porém o Estado já investiu R$ 79,7 milhões”, assinala.

Em pronunciamento no Plenário, o líder do Governo, Isaltino Nascimento (PSB) afirmou que os repasses da União chegam “a conta-gotas” desde 2013. Segundo ele, ainda são necessários R$ 383 milhões do Governo Federal para a conclusão das obras. No dia 28 de maio, em reunião com o governador Paulo Câmara no Palácio do Campo das Princesas, o presidente Michel Temer anunciou a autorização para um empréstimo de R$ 600 milhões, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para investimentos em ações preventivas de médio e longo prazo, como a construção das barragens.

PortalPE10
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