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Um ano sem Graça Araújo, jornalista que ampliava o significado da profissão


Contar o tempo a partir dos frutos pode servir de alívio para a ausência que ainda lateja, para o sofrimento persistente. Passado exato um ano da morte de Graça Araújo, a jornalista que ampliava o sentido e o significado da profissão, os frutos são percebidos nas mais diversas frentes: família, amigos, admiradores, artistas, companheiros de trabalho.

No amálgama quase indissociável entre vida privada e ofício, Graça foi sempre alguém que se dispôs a lutar: fugindo da fome quando deixou Itambé, Mata Norte de Pernambuco, ainda criança, órfã de pai; sendo a única negra na formatura da turma de jornalismo, em São Paulo, onde viveu; distinguindo-se como mulher de opinião forte, crítica e certeira nas bancadas que frequentou na TV e na Rádio Jornal.

Em setembro de 2018, nos instantes em que o corpo dela seguia para a cremação, a multidão de anônimos, ouvintes e telespectadores, gritava: “guerreira, guerreira, guerreira!”. Palavra que ninguém combina, mas que se encaixa com quem se pretende homenagear. “A injustiça é o mal que mais causa minha indignação”, repetia Graça.

O mais significativo dos frutos familiares acabou de completar 10 anos. Maria Eduarda é sobrinha neta de Graça, que não teve filhos. As duas se encontravam diariamente; a tia preocupava-se e custeava parte da educação da sobrinha. “Um xodó, uma paixão”, repetem muitos dos que conviveram com a família, que agora permitiu-se o silêncio. Justifica que, um ano depois, ainda há muita dor a ser dissipada.

Também é de dor persistente que fala o preparador físico de Graça Araújo, numa conversa franca e emocionada. “Às vezes, ficava achando que ela ia voltar. Depois lembrava que não mais voltaria”, diz o personal trainer. A palavra que melhor a define? “Exemplo”, escolhe. “Uma mulher que foi pobre, lisa, lisa mesmo. E chegou a construir um patrimônio sem ajuda de ninguém, sem pedir favor a ninguém, por esforço próprio. Isso eu acho que é o maior exemplo que a pessoa pode ter.”

A admiração por Graça Araújo segue na pele do estudante universitário Gustavo Orange, 29 anos, em forma de tatuagem. “Era fã desde de criança e pude conhecê-la, tivemos uma amizade – o maior presente pra mim”, confessa. “Ela lutava pelo povo, era a voz do povo.”

Para se contar os frutos de Graça, também é imprescindível um mergulho na cultura de Pernambuco. Por 22 anos ininterruptos, ela foi a apresentadora do festival de cinema Cine PE. Chico Buarque, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Marisa Monte – a todos eles a jornalista fez perguntas, entrevistas registradas em imagens e na memória do jornalismo.

Graça também era incentivadora dos artistas daqui: “Ela fez muito pela nossa cultura, por vários artistas da nossa geração”, afirma o cantor Almir Rouche, que, recentemente, passou por problema de saúde grave e semelhante ao da jornalista. “Ela ia atrás, divulgava as músicas novas, propagava, difundia, defendia – na rádio e na televisão.” E segue nos elogios, espalhando ainda mais frutos: “É ícone, hors concours. Quem tiver qualquer interesse em fazer jornalismo, comunicação, aconselho procurar saber, estudar e seguir as pegadas de Graça.”

CICLOVIA

Desde o dia 18 de agosto, Graça Araújo também é nome de ciclovia. A nova rota das bicicletas, com 2,8 km de extensão, fica na área central do Recife, margeando ruas que Graça passava diariamente para ir ao trabalho na TV e na rádio. “Agora Graça vem me acompanhando desde o Procape até a rádio”, brinca o comunicador Geraldo Freire, amigo por 30 anos (ver entrevista ao lado), fazendo referência ao local do início da ciclovia.

Adriana Victor
JC
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